Qual estilo de animação digital é o melhor para o meu projeto? 2D ou 3D (CGI)?
Animar ou não animar, não és mais a questão. Mapeamos os estilos que mais nos pedem no estúdio e destacamos suas diferentes técnicas de animação!
Com era digital mais imersiva e crescente na vida das pessoas, a animação está presente em uma vastidão de mídias audiovisuais que assistimos e interagimos por aí. Através da sua capacidade de abrir caminho a expressões criativas poderosas, a cultura, a publicidade e a educação são muito beneficiadas por este tipo de técnica.
Porém, é bastante comum encontrar uma variedade de estilos visuais marcantes por aí, cada um produzido com uma técnica – ou mais de uma – à sua maneira. Como saber qual estilo e técnica se encaixam melhor para meu projeto?
Buscamos explorar melhor sobre animações 2D e 3D para responder essas dúvidas à medida que traremos um pouco mais sobre como pensamos a produção por aqui. Vem com a gente 😉
AFINAL, QUAL POTENCIAL DA ANIMAÇÃO
Animação é capaz de tornar o impossível possível dentro de uma obra audiovisual. Seja num filme realizado inteiramente através da técnica de animação ou uma adição em trechos de filmagens live action, é possível contar histórias e apresentar conteúdos únicos com o apoio de elementos fantásticos, lúdicos, artísticos e expressivos.
A sua capacidade criativa e imaginativa permite a elaboração de filmes e vídeos mais atraentes, emocionalmente impactantes, inclusivos e representativos, de modo que se conecta com o público através da empatia, esclarece ideias com abstrações e soluções visuais cativantes que são capazes de simplificar assuntos complexos e assim por diante.
Porém, não é possível desenvolver tudo isso sem um animador, que é criador e manipulador do movimento por meio de ilusões que dão “alma” (anima) a elementos inertes. A partir disso, personagens e figuras são carregadas de significado por meio de diferentes tecnologias e estilos em filmes, séries, videogames, publicidade etc. Dentre elas se destacam dois grupos principais: 2D e 3D (CGI).
ANIMAÇÃO 2D
Este método de animação é caracterizado pela criação de figuras no espaço bidimensional (altura e largura) como personagens, criaturas, objetos, efeitos visuais e cenários. Em outras palavras, qualquer imagem criada em superfície plana é considerada 2D.
Note que a dimensão espacial do meio é muito importante para entendermos a técnica, porque mesmo artes 2D têm a capacidade de representar profundidade em sua composição, seja através do uso de formas, linhas, efeitos de luz, sombra e cores.
O mundo da animação em duas dimensões é vasto e abriga três principais técnicas:
A) Animação frame-a-frame (full, tradicional ou quadro-a-quadro): envolve a criação de uma série de “desenhos” em superfícies planas (físicas ou digitais) que mudam a cada frame do filme e, geralmente, um segundo do animador pode ter 8,12, 24 frames (sim, é um trampo do cão 🤯). A sugestão de movimento acontece, então, quando observamos estas imagens em sequência rapidamente.
A partir dessa lógica um personagem é desenhado diversas vezes – e em diferentes poses – para representar a ação que vemos. Enquanto isso, os cenários e outros elementos são ilustrados e animados em planos separados.
O avanço da tecnologia nos dias atuais, saímos das mesas de luz para as pen displays, tablets e softwares (o TVPaint, por exemplo) que contam com seus diferentes brushes (ricos em texturas), que facilitaram a produção desta técnica, acelerando o processo.
Podemos encontrar alguns exemplos nos clássicos da Hannah-Barbera (Tom & Jerry e Scooby Doo), nas séries de animações japonesas (Dragon Ball Z, Naruto etc) e em campanhas de publicidade (como os clipes que anunciam os campeonatos de League Of Legends).
Curiosidade: há os que chamam de animação 2D apenas esta técnica, fazendo jus a arte de animar quadro a quadro.
Saiba mais sobre o projeto SM Educação.
B) Cut Out (Recorte): envolve a manipulação de elementos visuais a partir de “recortes” que funcionam como mecanismos de movimento. O termo vem já da animação artesanal (utilizando recortes de papel, madeira etc), mas vamos focar mais na técnica digital Uma de suas grandes vantagens se baseia no fato de que são necessários menos desenhos para sugerir a ação por meio de ilustrações que são articuladas. Nesta técnica, as interpolações são facilitadas, ou seja, os movimentos entre quadro ou pose-chaves acabam são gerados automaticamente pelo computador (exemplo de software: Toom Boom Harmony).
Por ser mais prática que a técnica anterior, o cut-out digital é bastante utilizado na área de publicidade e em séries que exigem uma demanda mais dinâmica, o que a torna uma escolha frequente entre as produtoras. Graças a isso, conteúdos produzidos desta forma já são comuns para o imaginário do público e, para se destacar, os animadores buscam por estilos únicos que possam se diferenciar.
A campanha que realizamos para a TOTVS se apropria dessa técnica para adotar um visual de pintura digital e com movimentos de técnica cut-out, porém traz mais desenhos de quadros chaves para dar mais fluidez – como nas animações 2D tradicionais.
TOTVS. Clica aqui pra ver o filme!
C) Motion Graphics: se baseia nos princípios de design gráfico para dar movimento a formas abstratas, geométricas, cores, tipografias e ícones vetoriais através das mudanças de parâmetros destes elementos ao longo do tempo. A partir de extremos nas poses e alterações de propriedades dos conteúdos a serem animados, o computador fica responsável pelas informações intermediárias entre o estado inicial e final, além de permitir a simulação de efeitos visuais e procedurais.
Apesar do seu aspectos gráficos e geralmente focado em formas, esta técnica pode ser utilizada com personagens, muitas vezes acompanhando um estilo gráfico também, possibilitando deixar o projeto muito estiloso. Mas, por conta da sua alta disseminaçào, devemos tomar cuidado para não acabar deixando um projeto com uma cara muito comum (ou “default” para as pessoas da área)
Deste modo, animações assim são comumente utilizadas na produção de vídeos focados em marcas, educativos, explicativos e apoiam a representação gráfica de informações e efeitos, dada a sua praticidade.
CGI ou ANIMAÇÃO 3D
As Imagens Geradas por Computador (tradução livre para CGI) ou Animação 3D são aquelas produzidas em ambiente tridimensional a partir de imagens criadas pelo computador (como o próprio nome sugere). No lugar de desenhos, essa técnica dá vida a estruturas modeladas em 3D, processo criativo que envolve o uso de polígonos, arestas e vértices para formar esculturas como as feitas em madeira, massa de modelar ou pedra. Estes modelos são articulados com um rigging, esqueleto que possui controladores para animação e renderizados como uma sequência de imagens.
A renderização é um tema bastante complexo na prática. Ele é, basicamente, um processo que “tira a foto de uma cena” a partir das configurações de uma câmera e iluminação virtuais. Deste modo, o computador interpreta as formas 3D para gerar um produto em 2D.
O render ainda é um grande desafio para esta técnica. É possível que o tempo de renderização para produzir uma cena de animação leve alguns dias para ficar pronto. Porém, felizmente o avanço da tecnologia tem facilitado este processo, com placas de vídeo mais potentes ou até mesmo pelos avanços visuais dos softwares de jogos como o Unreal.
O Voo do Impossível, curta-metragem feito em 3D. Veja o filme completo aqui.
Por conta de sua versatilidade e controle visual, a Animação 3D pode gerar diferentes estilos, de acordo com a criatividade de cada um, à sua maneira. Alguns exemplos a seguir:
D) Toon Shader: se baseia na simulação para parecer uma animação 2D. Através do controle de material, textura, contorno, luz e sombra de forma estilizada. A técnica vire e mexe volta a moda, como vemos no filme Homem-Aranha, no Aranhaverso (2018) e o curta-metragem da Disney que veio antes dele, Paperman (2012).
E) Realista: sugere um visual realista através das texturas e interpretação das cores e luz e sombra. Alguns filmes buscam enganar para se tornar mais próximo do mundo como conhecemos, mas outros filmes exploram criativamente as formas e personagens seguindo um estilo que impressiona por seu estilo realista, mas mantendo seu aspecto cartoon – como o curta “O Voo do Impossível”, que produzimos em parceria com a Embraer.
Nas grandes telonas vemos os filmes da Pixar, por exemplo, que criam este visual e atmosfera realistas para contar a história de personagens que também são cartoonizados.
Filme de animação beneficente, AACD Braços Amigos. Saiba mais aqui!
F) “Stop Motion”: simula um estilo em que o visual sugere a aparência e comportamento de massinha, pedra ou outros materiais. Claro, que para este estilo funcionar legal, é importante seguir um design que seja bem verossímel com a técnica de stop motion. Alguns exemplos deste estilo são a série produzida pela Netflix, ONI – A Lenda do Deus do Trovão e os projetos que produzimos para campanhas para a AACD e para a Arno.
Filme de lançamento do Arno Soup+ Stile. Confira!
Portanto, as animações 3D podem simular 2D ou realista, assim como o 2D pode querer também trazer alguma volumetria 3D em suas pinturas. Mas naturalmente, quando estamos na técnica 3D, os recursos da Computação Gráfica possibilitam a utilização de mais recursos, como criar formas e a simulação automática de luz e sombra, líquidos, sólidos e texturas, são os principais fatores que contribuem para a finalização de obras com este objetivo.
Por outro lado, estes detalhes podem muito bem ser manipulados para subverter a realidade e produzir obras estilizadas, como podemos ver na série que produzimos, Diário de Pilar (2020).
Diario De Pilar: série animada. Mais informações aqui.
QUAL A MELHOR TÉCNICA DE ANIMAÇÃO PARA SEU PROJETO
Pelas nossas definições acima, já devem ter ajuda na sua percepção de quais técnicas e estilos seguir. Mas não existe certo e errado na arte. É bem possível que a decisão em partir de uma técnica de animação para seu projeto parta de um desejo pessoal e subjetivo. Este fator é completamente compreensível e, a motivação para escrevermos este texto é apresentar uma panorama geral sobre as inúmeras possibilidades de criação.
Olhando por um lado mais pragmático, para fazer a melhor escolha é interessante não deixar de rever as necessidades bases de cada projeto. Por exemplo:
- Que história eu quero contar? Lembre-se que antes de tudo, o que estamos fazendo é contar uma história. A técnica e estilo será sempre um roupagem de uma narrativa que, se não for boa, não há milagres que possam fazer o projeto ser bom. Já o contrário (tendo uma boa história) o estilo pode até não ser tão bom, mas cumpriu melhor seu papel.
- Qual o objetivo da animação? É informar, entreter, interagir ou educar?
- Quanto tempo de produção será necessário? (Lembre-se que o tempo é amigo da qualidade).
- Que tipo de visual tende a interessar mais o público do projeto? O público é quem comanda e, claro, seu critério artístico também.
- Quanto estou disposto a investir? Muitos não tem noção de qual o valor de uma animação, e isso realmente é relativo, como qualquer valor de arte. Mas é importante entender mais pra valorizar esse trabalho que, geralmente, se trata de uma produção coletiva e minuciosamente arquitetada.
- Qual o caminho sugerido pela direção de arte do projeto? Até mesmo a referência de uma imagem ou vídeo produzidos por IA pode te ajudar nesse processo. Porém, é importante ter cautela neste caso para não criar algo muito batido (comum), ou ferir o direito autoral de outros – lembre-se que as Inteligências Artificiais mais comuns são treinadas a partir de um banco de dados com artes já existentes.
- Quanto tempo de duração terá meu filme em animação? 1 minuto? 5 minuto? 60 minutos? Importante ter referencias próximas ao seu objetivo para ajudar a compreensão total dos custos de produção do seu projeto.
Partindo dessas perguntas, passamos a observar as vantagens e desvantagens que cada estilo e técnica mencionados acima. Animações frame a frame levam mais tempo para produzir que as outras 2D por causa da necessidade de desenhar quadro a quadro as diferentes alterações possíveis em tela.
Por outro lado, ela permite o desenvolvimento de cenas e ações bastante fluidas e dinâmicas, com ângulos de câmera em perspectivas exageradas, tal qual costumamos ver em muitos animes por aí.
Já as outras técnicas 2D tendem a simplificar o processo um pouquinho, tornando-o mais rápido e eficiente. Partindo da manipulação de propriedades e manuseio de elementos ao longo do tempo com o auxílio do computador, são necessários menos desenhos e pessoas para animar.
Porém, apesar dos personagens tenderem a se mover com menos fluidez, essa simplificação pode possibilitar a concentração de outros esforços da produção, ajustes mais fáceis quando necessário, mais refinamento em certas pinturas de cenários e quantidade de animação em caso de projetos de larga escala ou prazo enxuto.
A riqueza da arte se manifesta através de soluções criativas que engradecem a mensagem que deseja transmitir, abrindo portas para uma gama infinita de abordagens criativas. É possível criar mais variação de poses e expressões para que os personagens pareçam mais vivos, é possível aplicar texturas para que formas abstratas gerem mais interesse e assim por diante.
O 3D, por sua vez, facilita a movimentação de câmera e simulação de efeitos e texturas realistas. Porém, o tempo de produção costuma ser maior que o 2D porque precisa de mais etapas para finalizar, como a criação de cada elemento que fará parte das cenas, o rigging (adicionar esqueletos manipuláveis para animação de personagem), mapeamento de texturas, iluminação etc.
Espetáculo Cineflix: Trailer de Segurança de Cinema. Saiba mais sobre a campanha.
É NECESSÁRIO ESCOLHER APENAS UMA?
Apesar de termos categorizado as técnicas como caminhos diferentes a serem seguidos, a mistura é uma opção poderosa e bastante utilizada por produtoras.
É possível mesclar as técnicas a fim de explorar as vantagens e identidade de cada uma. O filme Klaus (2019), por exemplo, se parece bastante com um projeto desenvolvido inteiramente em 3D, dado os efeitos de volumetria e textura atribuídos a seus personagens, mas teve grande parte do trabalho realizado em 2D. Eles se apoiaram no 3D em alguns elementos para simplificar processo de animações mais complexas em 2D, como a carruagem de renas.
Em uma campanha que realizamos em parceria com a Renner, por outro exemplo, animamos os personagens seguindo a técnica 2D frame a frame, mas os outros elementos visuais foram animados em Motion Graphics por serem formas simples e secundárias no contexto do vídeo, Neste caso, usamos uma taxa de frames menores para simular uma animação de caráter mais artesanal (tipo stop motion).
Mini jogo dos Fuzarkas, Renner. Clique para saber mais.
A animação é uma arte, e sempre que possível, coletiva. A partir deste ponto de vista, a arte de dar vida a personagens, criar espetáculos visuais, comunicar e transmitir mensagens respeitando a identidade visual da sua marca e contar histórias por meio da animação é resultado de uma série de decisões criativas e racionais que envolvem os temas abordados.
Para isso, podemos pensar de maneira coletiva para que todo mundo possa realizar animação. Pensando em comunidade, devemos juntar a ideia do criador, a arte da animação e o público que queremos atingir. Cada um antenado e conhecedor de sua função.
E nosso pilar é esse: a arte de animar! Se interessou em produzir uma animação? Conte com a gente se precisar conversar. 🙂
Leia mais:
https://stonesoup.com/post/why-animation-is-important/
https://www.unrealengine.com/en-US/explainers/animation/animation-in-film-and-cinema
https://www.tecmundo.com.br/tecnologia/59047-veja-evolucao-industria-animacoes-cgi.htm
https://medium.com/@ianimate/unlocking-your-animation-potential-5507b5132c84