Mundo GEEK e Conteúdo Transmídia
Filmes de Herois, Bazingas e Multiverso. Cada vez mais o mercado nerd movimenta milhões com o imaginário de suas narrativas. Como podemos embarcar nessa onda e contar histórias para esse público?
A cultura nerd é a dos excluídos da classe, as crianças da turma que não se encaixam socialmente e tem gostos únicos. Quando pensamos no passado dessa cultura, antes de virar pop, estávamos falando sobre os jogos RPG, histórias em quadrinhos, super herois. Os super herois, em essência, geram essa identificação por também serem pessoas comuns, excluídas, que não se destacam socialmente por grandes feitos. São apenas pessoas comuns, com um grande segredo. Essa identificação com os personagens leva ao fascínio e, após o sucesso do Vale do Silício, que criou bilionários no ramo da tecnologia, como Bill Gates e Steve Jobs, ficou cada vez mais cobiçado ser nerd. Uma vez que todos idealizam os nerds ganharem muito dinheiro e ser reconhecido por sua genialidade – mesmo após ter sido excluído durante o decorrer de suas vidas.
Com o avanço da tecnologia, filmes de heróis também ficaram cada vez mais impressionantes. Prédios caindo, pessoas voando, os efeitos de super poderes. Todos esses efeitos, que são muito difíceis de “gravar”, ficam dependentes da tecnologia para convencer e impressionar a audiência.
Na essência, os dois filmes sobre o Superman – “Superman” (1978) e “Superman Returns” (2006) eram gravados com atores sob o fundo verde. Assim como em “O Homem de Aço” (2013). A diferença está principalmente na tecnologia CGI aplicada. A diferença entre o visual final de cada filme fica claramente impactante. Quantos elementos são reais e criados por computador nos filmes atualmente?
Qual a diferença entre Nerd e Geek?
Ainda existe uma grande diferença entre os conceitos de Nerd e Geek pois nerd, em essência, são pessoas extremamente estudiosas, enquanto Geek tem mais relação com a cultura nerd, em gostar de filmes e séries que em geral podem ser difíceis de entender. Enquanto nerd é quem adora estudar sobre o espaço, viagens no tempo e ciência em geral, e consequentemente por isso gostam de conteúdos com estes temas, os geeks gostam principalmente dos conteúdos relacionados, podendo ou não trazer para a “vida real” – marcados pelo fascínio com a compra de produtos sobre o tema.
De toda forma, a cultura abrange pessoas ‘comuns’, que sofrem injustiças, têm gostos únicos e diferentes, e nem sempre são os mais fortes ou os que têm mais destaque na multidão. E nada como nos unir a pessoas com os mesmos gostos para gerar uma união para a vida toda. A série “Stranger Things” resgata este conceito e mostra a forte amizade que surge na dificuldade. Repleto de elementos do início da cultura nerd, como a paixão por monstros, viagens no tempo, computadores e jogos, a série é ao mesmo tempo nerd e popular, por abranger muitos temas nostálgicos – como a entrada dos jogos digitais – e universais – amizade, perda, crescimento e relação entre irmãos.
A série agrada a quem assistiu filmes como E.T, Ghostbusters, Alien, entre outros sucessos de bilheteria dos anos 80, por tratar da temática fantástica. Mas também agrada a quem realmente viveu os anos 80, com as polainas, TVs antigas e cortes de cabelos típicos da época. Mas o que realmente fisga o público é a relação de amizade e família entre os personagens, sempre juntos para enfrentar as forças do mal. Nos identificamos com os personagens. E os produtos relacionados a série estouram nos mercados, consolidando-se como parte da cultura geek. O que une a todos os tipos de público é justamente isso: os valores ensinados pela série através da experiência vivida pelos personagens.
CONTEÚDO TRANSMÍDIA
A maior jogada que uniu a comunidade nerd em todo o conteúdo da marca e potencializa o universo geek, tem como grande exemplo as franquias de Star Wars e os herois da Marvel, os Avengers. O sucesso vem da estratégia Transmídia. Essas duas franquias utilizaram essa estratégia de conteúdo para manter os fãs engajados e atrair a curiosidade do público em geral, em que todos os conteúdos se relacionam entre si, trazendo mais conhecimento sobre o universo da franquia a quem conhece todos os produtos. E como funciona?
Star Wars tem um vasto universo de personagens, galáxias, alienígenas, combates espaciais e naves, que foram um sucesso no primeiro filme e dão espaço para infinitas histórias serem criadas. Nos primeiros filmes, acompanhamos a história do herói Luke Skywalker mas, assim como a vida dos atores, tudo tem um ciclo de início e fim. O sucesso da franquia não pode ficar preso somente aos seus herois e vilões. Para manter a continuidade, o universo Star Wars tem suas regras e fórmulas para poder contar novas histórias com novos personagens, mantendo as características mais marcantes do filme.
A partir da política e organização das sociedades criadas pelo universo do filme, estes mesmos elementos que eram pano de fundo nos primeiros filmes se tornam chutes iniciais para a criação de novos conteúdos. Como é o caso da vilã Cruella, que ganhou filme próprio após seu sucesso na série de filmes 101 Dálmatas, ou o filme Lightyear, após o sucesso de Buzz em Toy Story.
Já os herois da Marvel surgiram nos quadrinhos, com revistas especiais para cada um, e para cada tipo de público que os acompanha. Cada heroi tem seu ciclo de começo e fim, seus próprios vilões, sonhos, valores e ideais. Além, é claro, de seu próprio universo, que traz características típicas de seus bairros e cidades, por exemplo.
Além dos filmes de cada heroi que acompanhamos ano a ano serem lançados pela marca, a estratégia da Marvel e de seus criadores foi de trazer a continuidade entre os filmes. Em uma estratégia transmídia mais ousada, que vai além de easter eggs, os filmes da Marvel têm informações sobre os próximos filmes, mesmo que sejam de outros herois e públicos variados. Quase todos os herois convivem juntos numa mesma realidade (ou multiverso rs) e, para acompanhar seu favorito, por vezes é preciso ver os filmes de outros personagens para pegar uma referência. Além também, das cenas pós-créditos, que é uma forma de fazer o público esperar o fim dos créditos para ter mais informações sobre os próximos lançamentos e seus personagens favoritos.
Isso gerou uma comunidade que acompanha todos os filmes e séries da franquia para entender toda a trama que envolve todos os herois. Uma saga de décadas, que muda o foco de cada ano para o filme do heroi em destaque mas que envolve o universo de todos os herois da franquia.
Multiverso – Máxima liberdade para criação de novas histórias
Nem todos os herois convivem numa mesma realidade. Dessa forma, o conceito de Multiverso surge para expandir o campo das histórias, dando mais liberdade aos criadores. A partir da teoria científica de que existem simultaneamente múltiplos universos existentes, proposta pela ultima pesquisa de Stephen Hawking, é possível criar histórias com os mesmos personagens habitando múltiplas realidades – e até mesmo se encontrarem, com a ajuda da ficção científica.
A série de filmes Homem Aranha, por exemplo, teve 3 adaptações famosas das histórias em quadrinhos, protagonizadas pelos atores Tobey McGuire, Andrew Garfield e Tom Holland, cronologicamente. No último lançamento da franquia, o filme “Homem Aranha – Sem Volta Para Casa” junta as três versões do mesmo personagem para batalharem juntos. As referências aos outros filmes e a exclusiva união dos 3 personagens gerou nostalgia e um grande impacto nas bilheterias. O filme bateu recordes e se tornou a maior estreia no Brasil e a 2a maior estreia da história do cinema, até então.
Seja construindo um universo com regras fantásticas próprias ou explorando multiversos, a base de contar boas histórias acima de tudo é o que faz o público se encantar pelas franquias. Existem diversos pontos de onde pode-se estender uma história, criar novos conteúdos, até mesmo em novas plataformas. Seja Geek, ou Nerd, ou Pop, o que conecta as pessoas com essas histórias são a identificação com os personagens e o senso de comunidade que se gera em torno dessa experiência. Criar eventos e integrações como cosplays, TikToks, Funkos, Games, Acessórios, e muito mais outros objetos físicos, trazem as histórias para a nossa realidade e geram essa conexão real. Como criadores, precisamos pensar não só em como trazer realidade para nossas histórias, com personagens com defeitos e qualidades reais, mas também em como trazer a ficção para nossa realidade. E é isso que nos inspira.