Mono Animation conta sua trajetória e fala sobre o Mercado de Animação no Festival de Gramado.
Em Agosto, estivemos no Festival de Cinema de Gramado durante o Gramado Film Market e os diretores Bruno Bask e Rui Okusako apresentaram um painel sobre o mercado de animação no Brasil. Confira abaixo o que foi discutido na palestra!
No mês de agosto/2019, a Mono Animation comemora seus 13 anos e esteve no Festival de Gramado no para compartilhar sua trajetória na palestra de animação no evento Film Market, voltado para profissionais na área do audiovisual. Aproveitou a oportunidade para compartilhar sobre o primeiro Mapeamento da Animação Brasileira (acesse o link) – realizado e apresentado pelo Festival Anima Mundi e JLeiva, em julho deste ano. Destacou que produtoras de animação no Brasil com porte de 41 profissionais ou mais, representam somente a fatia de 6% , segundo o estudo. A produção no Brasil conta com diversos desafios que, em contra-partida, houve o aumento do número de produtoras especializadas no gênero, que triplicou desde 2011 — e que permanece principalmente no eixo Rio-SP – eles compartilharam suas percepções de acordo com a sua experiência no mercado.
Sobre o Mercado de Animação
O estudo mostra também o crescimento dos projetos de larga escala no setor, tais como Séries de TV e Publicidade, por venda direta dos produtos, como principal fonte de recursos para a atividade. Aumento de plataformas e marcas colaboram com o aumento da demanda. Assim como foi a série “Mundo Ripilica”, da marca Marisol, produzida pela Mono Animation, projetos como estes são muito importantes para o fortalecimento da indústria brasileira. “Apesar de termos uma rotatividade interessante de projetos, falta planejar o ciclo de séries por mais anos para potencializar o mercado, gerando estabilidade entre colaboradores e demanda. Como acontece em muitos mercados lá fora.”, conta Bruno Bask, Diretor de criação da Mono.
Já as leis de fomento ao audiovisual colaboram para o desenvolvimento e organização do setor, mas ainda representam muito pouco como fonte de recursos se comparada com a prestação de serviços. Em meio a tantas empresas com até 06 funcionários (cerca de 54%, segundo o estudo), o aporte pode servir de base para novas empresas começarem a trabalhar com equipes maiores e entregar obras de qualidade.
É nesta indústria, mostrada pelos dados da pesquisa, que vemos cada vez mais as produtoras sendo pressionadas em buscar alternativas de conteúdo, como o uso de tecnologia alternativas.
O avanço da computação gráfica: Tecnologia a serviço da narrativa
Para Edwin Catmull, presidente e fundador da Pixar, a empresa nasceu do sonho de conseguir contar histórias em animação totalmente feitas no computador. Ao contrário do que foi para a Disney, que realizava animações pintadas à mão cena a cena, levou-se um tempo para concretizar a tecnologia como uma forma de arte. Variadas tecnologias surgiram e hoje o desafio é aprender a como contar histórias nestas novas linguagens.
O diretor de produção Rui Okusako contou um pouco da trajetória da Mono para mostrar como a evolução de tecnologias como VR, Captura em tempo real, óculos 3-D estereoscópico de cinema, Personagem Virtual, e a evolução da Computação gráfica em Animação, levaram a uma descentralização do conteúdo e criaram novas formas de se contar histórias. E como essa evolução no Brasil e no Mundo ainda impacta nos processos de animação.
A arte de contar histórias em animação envolve fases complexas de produção como a Escultura Digital, Renderização, entre outros. Os artistas passaram por dificuldades na computação gráfica, exigindo grande desafio dos profissionais entenderem de processos fora da animação e além dos desenhos como software, programação, fotografia, entre outros, pois era preciso entender como a animação se adaptava a essas tecnologias tanto na história como tecnicamente. Hoje em dia, já existem mais especialização em setores para diferentes formatos de animação. Os óculos VR, por exemplo, permite ao usuário ser dono da direção da “camera” na história, e é preciso utilizar recursos de som principalmente para chamar a atenção deste usuário para guiar o seu olhar para a história. E para aplicar essa tecnologia, é preciso ter a compreensão dos tipos de óculos que existem, dos softwares que essa plataforma lê, conceito de jogabilidade, entre outros.
Desta forma, as produtoras acabam sendo responsáveis por formar jovens profissionais, pessoas no começo da carreira, para investir nesses talentos que tem flexibilidade para trabalhar com os diferentes tipos de tecnologia. Com o passar dos anos, cada vez mais escolas de animação foram surgindo e os profissionais continuam sendo “multitarefa”, mas puderam ir se especializando para ter seu lugar nos projetos de grande escala. Valoriza-se muito quem consegue o olhar criativo de conectar projetos variados e mesclar diferentes tecnologias — como, por exemplo, no projeto que a Mono realizou para exibir os tomatinhos da Hellmann’s ao vivo no telão do Rock In Rio, foi preciso unir as tecnologias de Captura Facial real-time, agregando a conceitos de animação.
Nesse caso, mesclar as tecnologias possibilitou que o público dos shows pudesse ter a experiência de ver seus tweets comentados pelos tomatinhos (na voz do comediante Marco Gonçalves no telão do Rock in Rio. E a técnica criada e aprendida para cada projeto auxilia no processo de evolução da produtora. Posteriormente, essa tecnologia de animação “ao vivo” possibilitou a criação de muitos vídeos em pouco tempo, como foi aplicado para o projeto do Tim Chip para Tim.
As produtoras brasileiras têm uma criatividade infinita mas é importante estarem atualizadas para manter-se à frente de produções com qualidade mundial. Não só para acompanhar as novas tecnologias, como também mesclá-las para criar novas formas de se contar histórias.
A palestra terminou com a inspiradora frase do livro “Manual de Animação” (o original “The Animator’s Survival Kit”), do premiado animador e diretor Richard Williams, que veio a falecer poucos dias antes do festival, e nos deixou um grande legado:
"Um bom desenho não é uma cópia superficial da realidade. Tem a ver com aprofundamento e expressividade [...]. Queremos ter o tipo de realidade que uma câmera não pode obter. Queremos acentuar e suprimir aspectos do caráter do personagem para torná-lo mais vívido ”
Saiba mais:
Festival de Cinema de Gramado – Site Oficial
Mapeamento da Animacao no Brasil – JLeiva e AnimaMundi
Tela Viva – “Para sócios do Mono Animation, animação sofre com imprevisibilidade e profissionais saindo do país”
Livro “Creativity, Inc.” – por Amy Wallace e Edwin Catmull
Livro “Animator’s Survival Kit” – por Richard Williams