O que aprendemos com a técnica 3D do Gato de Botas 1  - Mono Animation

O que aprendemos com a técnica 3D do Gato de Botas

Homem-Aranha no Aranhaverso abriu as portas para um estilo de animação que gera uma dúvida: Você sabe dizer se é 3D ou 2D? Na verdade, é uma mescla dos dois. O novo filme do Gato de Botas usa técnica similar e não resta dúvida. Fizemos uma pesquisa sobre o estilo para entender quando pode se aplicar no seu projeto!

A pintura à mão, feita em tela ou papel, tem traços característicos que surgem nas obras independentemente do artista que está produzindo. Sejam traços grossos ou finos, cada tipo de pincel deixa um traço específico no papel, seja com suas listras de cada um dos fios que o compõem ou os respingos que deixa espalhar discretamente pelo caminho do traço. São pequenos detalhes que, em comparação com o total da obra, podem passar despercebidos.

Para quem trabalha com arte, são estes pequenos detalhes que trazem o estilo quando trazemos a arte para o mundo digital. 

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Ainda que os pinceis digitais tentem simular esses padrões, é preciso ser um ótimo observador para encontrar estes detalhes que tornam cada obra realista ou estilizada – mas não que essas duas características sejam opostas. Confuso? Calma, vamos chegar lá!

Assim como a animação 2D digital simula os detalhes de uma pintura à mão, mas agiliza o processo de desenhar quadro a quadro, a animação 3D se aproxima das esculturas e o Stop Motion, em que movemos pedacinho por pedacinho da escultura em frente a uma câmera para dar a impressão de movimento. 

 

Para quem não entende de nenhuma técnica de animação, vamos explicar brevemente: A animação 3D é feita em softwares que esculpem digitalmente os personagens, suas proporções e volumetria, como se tivesse um próprio universo dentro do computador. A ideia de trazer um visual 2D para uma obra criada em 3D é uma forma de mesclar essas duas técnicas. É como se a ‘roupa’ que cobre o modelo 3D de personagem tivesse sido feita em 2D, pintada a mão, e inclusive sua pele e cabelo. Dessa forma, uma animação feita em 3D pode até ‘enganar’ o público, mostrando pinturas ganhando vida.

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Rigging em software de animação digital em 2D. 

Para criar uma animação usando apenas lápis e papel, basta desenhar o mesmo personagem em “mil poses variadas” e passá-las em sequência bem rapidamente. A animação digital surgiu para agilizar esse processo, mas ganhou também características próprias que se destacam quando comparado a uma animação 3D. Com a evolução do 3D para criar personagens e universos tão realistas ao ponto de parecer terem sido filmados – ainda que sejam coisas como aliens, robôs e naves espaciais que nunca realmente existiram – encontramos uma nova camada em que podemos combinar o visual 3D “Pixar” , não tão realista, com os traços característicos da animação 2D. Vamos tomar como exemplo o filme protagonizado pelo Gato de Botas.

Evolução do visual do Gato de Botas

Para criar uma animação usando apenas lápis e papel, basta desenhar o mesmo personagem em “mil poses variadas” e passá-las em sequência bem rapidamente. A animação digital surgiu para agilizar esse processo, mas ganhou também características próprias que se destacam quando comparado a uma animação 3D. Com a evolução do 3D para criar personagens e universos tão realistas ao ponto de parecer terem sido filmados – ainda que sejam coisas como aliens, robôs e naves espaciais que nunca realmente existiram – encontramos uma nova camada em que podemos combinar o visual 3D “Pixar” , não tão realista, com os traços característicos da animação 2D. Vamos tomar como exemplo o filme protagonizado pelo Gato de Botas.

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Comparação entre o personagem Gato de Botas em seus filmes.

Quando se trata de animação 3D que busca se aproximar do hiperrealismo, mesmo em personagens estilizados, os pêlos e cabelos são elementos fundamentais. Dada a complexidade de animação, as produtoras por vezes são responsáveis até pelo desenvolvimento de novos softwares apenas para simular a produção sequencial dos fios e seus movimentos, a fim de adequar ao contexto de cada personagem. Assim, tudo que envolve estes elementos são automatizados como forma de otimizar o processo de animação mas, para isso, é preciso profissionais de ponta para saber coordená-los.

Além disso, outro fator relevante está na forma como os pêlos são apresentados na versão final. Durante a renderização de uma cena, são desenvolvidos shaders (programas de computador que calculam os níveis de luz, sombra e cores) exclusivos para os pêlos, com o objetivo sugerir o hiperrealismo que tanto se busca, como se percebe no primeiro filme do Gato de Botas.

Por outro lado, o segundo filme já busca estilizar o personagem, adotando texturas que parecem pintadas, da mesma forma que um artista tentaria trazer realismo ao pintar um gato sobre tela. E o Gato de botas ainda traz alguns poucos fios modelados em 3D para trazer volume ao protagonista. Uma mescla de estilos

O diretor do filme, Joel Crawford, comentou diversos tópicos relevantes sobre o filme em uma entrevista ao portal Animation Magazine. Realizamos uma tradução livre: 

Há um intenso desejo em alcançar a tangibilidade, especialmente por parte dos espectadores mais jovens. Com o avanço do CGI as coisas parecem quase perfeitas, e passei muito tempo adicionando de volta o toque humano. Em nossa animação, na verdade, removemos o desfoque de movimento para reforçar essa intenção. Em seguida, nosso chefe de animação desenhou elementos 2D sobre os efeitos de iluminação em CGI.

Isso realmente fez uma mistura que trouxe de volta ‘o toque do artista’. O computador torna cada um dos quadros perfeitos e os combina para que tudo fique suave. Tudo isso expande nossa caixa de ferramentas para contar essas histórias.

Essa renovação não veio do nada. Este estilo vem ganhando o público há algum tempo, mas tem ganhado destaque com grandes obras como o premiado Arcane (Netflix), inspirado no game League of Legends, e as animações da Marvel, como Spiderverse e What If.

O toque do artista na publicidade

Por se tratar de uma técnica que é resultado de uma série de etapas de produção, e pode ser reproduzida para qualquer tipo de conteúdo em animação, cabe ao diretor de arte de cada projeto entender como o produto, serviço ou campanha pode se beneficiar de sua execução.

Trouxemos breves exemplos de como a técnica pode produzir resultados completamente diferentes dos filmes que mencionamos acima.

 

Por se tratar de uma técnica que é resultado de uma série de etapas de produção, e pode ser reproduzida para qualquer tipo de conteúdo em animação, cabe ao diretor de arte de cada projeto entender como o produto, serviço ou campanha pode se beneficiar de sua execução.

Trouxemos breves exemplos de como a técnica pode produzir resultados completamente diferentes dos filmes que mencionamos acima, como esta campanha produzida pela Buck.

Para esta campanha, a simplificação de formas e texturas em 3D dão a sensação de que as ilustrações do livro estão se movendo. Deste modo, a narrativa é introduzida com uma transição suave entre a abertura do livro e a apresentação de seu conteúdo, de forma imersiva e divertida.

Otimizar a produção

A opção de utilizar o visual 2D em animações 3D não é só uma questão de estilo. A técnica também é utilizada em animações que já existem com o visual 2D mas que ‘por trás das câmeras’ são feitas em 3D para agilizar o processo de produção.

Para a série Glitter Model, a Mono realizou a produção da primeira temporada para a Disney/Universal e utilizou da técnica 3D para criação dos episódios com uma mescla de visual estilizado 2D. Assim, quem assiste a série pode achar a primeira vista que se trata de uma animação 2D, talvez com efeitos 2D. Mas as personagens e cenários são criados em 3D e ganharam essa textura 2D, que traz esse visual único para a série.

 
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Abertura de Glitter Models.

Quando usar a técnica?

A cada ano surgem novas tendências de estilo de animação, por vezes alimentadas pelo avanço da tecnologia. Uma vez que animação 2D e 3D têm suas vantagens e desvantagens, e ao mesmo tempo podem possuir um grau variado de complexidade na produção, cabe à direção decidir qual técnica vai favorecer a narrativa abordada no filme ou campanha de publicidade, além de como e onde deve ser aplicada. Nós, como produtora, estamos sempre em busca de entender as tendências e tecnologias para ajudar nessa decisão.

Não se trata apenas de uma animação 3D que se parece com 2D para lembrar pinturas, quadrinhos ou simplesmente desenhos que se movem. Ambas as técnicas podem coexistir em um mesmo projeto, para que seja possível explorar os benefícios de cada uma delas. E claro, animação é arte, e como toda arte: é possível criar conteúdos diversos e criativos a partir de diferentes técnicas de execução. Não existe regra! 

O lado bom nisso tudo, é que a tecnologia é capaz de acompanhar a nossa criatividade!